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“Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?” (Lucas 10:29).

Bom dia!

O intérprete da Lei, com o intuito de por Jesus à prova, perguntou-lhe a respeito do que deveria fazer para herdar a vida eterna. O Mestre dos mestres respondeu-lhe com uma pergunta à qual ele respondeu bem e foi elogiado por Jesus. Muito embora nem sempre seja fácil interpretar a Escritura, praticá-la é ainda mais difícil.

O intérprete da Lei apresentou, então, uma nova pergunta, porém, ele o fez com o objetivo de se justificar. É provável que ele tenha se sentido reprovado no mandamento ético tão elevado do amor. Quem é o próximo a quem devo amar como a mim mesmo?

A pergunta do intérprete da Lei mereceu uma resposta bem elaborada por Jesus e, com ela, nós ganhamos uma linda parábola. Vivemos em um mundo compartimentado e alguns já falam em “neotribalismo”, não apenas como movimento cultural, mas como movimento econômico, social e religioso. O “neotribalismo” é um conceito sociológico que afirma que os seres humanos estão evoluindo para viver de modo tribal, em vez de viver em uma sociedade de massa.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez sua campanha com base nesse tipo de raciocínio. O neotribalismo pode, facilmente, desaguar em uma crença da superioridade das raças. O risco intrínseco é a desumanização daquele que é diferente, como aconteceu no Brasil com os índios ou nos Estados Unidos com os negros, por exemplo. Luc Ferry (2010), filósofo francês, faz distinção entre o “achegado”, aquele que conhecemos e amamos e o “próximo”, o anônimo, o desconhecido a quem, mesmo assim, ajudamos.

Ao responder a importante questão feita pelo intérprete da Lei, Jesus apresentou quatro personagens na parábola do Bom Samaritano. Para explicar o conceito de próximo, Jesus utilizou o exemplo de quatro pessoas: a vítima anônima, o sacerdote, o levita e o samaritano.

Na parábola, o sacerdote e o levita, ambos trabalhadores do templo, estavam, provavelmente, voltando do serviço religioso. Ao verem a vítima, decidiram, Jesus não declara o motivo, passar de largo. Por alguma razão, eles atravessaram a rua e evitaram o contato com o necessitado.

Alguns entendem que eles tinham o dever de socorrer a vítima em razão de seu ministério. Pode ser, talvez, que estivessem a zelar por sua santidade, pois eram proibidos de tocar em cadáveres, o que os tornaria cerimonialmente impuros. Eu e você, porém, podemos, sem muita dificuldade, fazer um exercício de empatia com os dois.

Imagine, infelizmente não será necessário muito esforço, que você está a passar em um conhecido local de criminalidade, com fama de alta incidência de ataques de ladrões. Provavelmente, você se sentiria apreensivo e inseguro apenas por passar naquele lugar, não é verdade? De repente, você se depara com uma pessoa caída no chão. O que fazer?

Já passei por situações parecidas. Recordo-me de haver passado em lugares perigosos, em horários de alto risco, quando, subitamente, alguém saiu de uma sombra e fez sinal para o carro. Não tenho vergonha de admitir que também acelerei e passei de largo. Sendo assim, a pergunta que o sacerdote e o levita podem ter feito internamente é: “O que pode acontecer comigo se eu parar?”

Jesus surpreendeu os ouvintes ao apresentar o samaritano como o herói da história e o que tornou o samaritano o herói da parábola é que ele inverteu a pergunta. Em vez de se colocar no centro da cena, como a pessoa mais importante, ele perguntou: “O que pode acontecer com ele se eu não parar para ajudá-lo?”

O poeta americano Carl Sandburg (1878 – 1967) afirma, ironicamente: “Ame o próximo como a si mesmo; mas não derrube a cerca.” Quem é o meu próximo, perguntou o intérprete da Lei para se justificar. Costumo pensar em meu próximo de uma maneira bem literal: Meu próximo é aquela pessoa que está perto de mim naquele momento e tem uma necessidade! Pode ser um parente, um “achegado” ou um completo desconhecido. Em um mundo dividido, cheio de tribos que se isolam e se protegem, Jesus nos orienta a amar a todos os que estão perto de nós, não apenas aqueles que pertencem à nossa tribo!

É provável que você, em razão de seu ofício ou do momento que estamos a viver, se depare com pessoas necessitadas o tempo todo. Cuidar delas é a forma mais elevada de praticar o mandamento: Amar a Deus “de todo o coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: amar o teu próximo como a ti mesmo.”

Cel. Cícero Nunes

Cel. Cícero Nunes

Professor Estudo Bíblico

Cícero Nunes Moreira é casado com Cibele Mattiello da Rocha Moreira. Ordenado ao ministério sacerdotal há vinte e cinco anos, autor e Pastor na Igreja Evangélica Vida com com Cristo e capelão voluntário na Policia Militar de Minas Gerais com atuação, principalmente na Academia de Policia Militar e no Hospital da Policia Militar. Mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas e Coronel do Quadro de Oficiais da Reserva. Autor do Livro Religião e Direitos Humanos na Policia Militar e Segue-me! Conectando-se ao Evangelho de Lucas.

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