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“Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano.” (Lucas 10:17-19).

Bom dia!

A Bíblia não faz distinção entre religioso e secular, esse é um conceito moderno. Faz, entretanto, distinção entre santo e profano. De uma maneira geral, podemos entender “santo” como consagrado, separado, posto à parte do mundo. O santo se coloca em oposição ao profano que, também, de modo geral, aplica-se ao que está fora do templo.

O par “sagrado-profano” é apresentado em relação ao par “pureza-impureza” e todo o povo de Deus é convocado à santidade, o que significa ser chamado para Deus, separado para ser santo e puro. O povo da Bíblia não tinha nenhum problema com esses conceitos, para eles o sagrado era o real e eles conviviam com essa realidade o tempo todo.

Abrão recebeu um comando para sair do meio de sua parentela e obedeceu. Deus falou diretamente com ele e não se espantou. O Senhor e dois anjos apareceram para Abraão nos carvalhais de Manre, Abraão se prostrou e ofereceu hospitalidade. Jacó lutou com o Anjo do Senhor e lhe disse: ” Não te deixarei ir se me não abençoares.” (Gênesis 32:26).

A mulher de Manoá, mãe de Sansão, se encontrou com um anjo e não se espantou. Gideão recebeu a saudação do Anjo e conversou com ele sem estranhar. Jesus se deparava com pessoas atormentadas por demônios o tempo todo. Estando Pedro e João na prisão, apareceu-lhes um anjo do Senhor, abriu-lhes a porta do cárcere e eles saíram sem pensar duas vezes. As pessoas da Bíblia não se espantavam com o sagrado. Na verdade, elas viviam nessa dimensão.

A ideia de que os relatos da Bíblia são apenas mitos ganhou força a partir do chamado Liberalismo Teológico, também conhecido como Teologia Liberal. Foi por influência da Crítica Bíblica, do Darwinismo e do Naturalismo que algumas áreas do Protestantismo começaram um movimento de acomodação da interpretação bíblica à cultura moderna. Os chamados teólogos liberais afirmavam que a Teologia Tradicional era insustentável em um mundo iluminado; que a crença em assuntos sobrenaturais, tais como Anjos demônios e milagres era superstição; e que a doutrina cristã precisava ser reformulada à luz das culturas contemporâneas.[1]

Com dificuldade para se posicionarem em razão das críticas da modernidade, os teólogos tentaram retirar da religião todos os elementos metafísicos, reduzindo-a aos aspectos éticos. A essência do cristianismo, para eles, era ser uma expressão moral humanitária. Todos os esforços foram realizados para conciliar religião e razão, cristianismo e modernidade. O efeito de todo esse trabalho foi produzir um ceticismo em relação às manifestações do sagrado, uma religião sem vida, sem poder.

Quando alguém diz: “o Senhor falou”, o “Espírito Santo me revelou”, “tive um sonho” ou uma “visão”, imediatamente é posto em suspeição e passa ao descrédito: “A respeito disso te ouviremos noutra ocasião.” (Atos 17:32).

Infelizmente, nesse momento de nossa história, muitas pessoas escolheram ignorar o sagrado, atribuindo-lhe a categoria de mito ou superstição. Problemas espirituais são tratados com encaminhamentos, medicação e terapia. Enquanto você vai lendo este texto, se não o abandonou pelo caminho, eu vou sendo arrastado dentro de sua mente para alguma categoria: fanático, supersticioso, ultrapassado, pentecostal ou maluco. Na verdade, meu desejo é tão somente ser como meus irmãos da Bíblia: Abraão, Jacó, Gideão, Elias, Elizeu, Davi ou qualquer um dos profetas.

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[1] Texto do livro: MOREIRA, Cícero Nunes. Senhor, ensina-nos a orar. Belo Horizonte: 3i Editora, 2019, p. 248

Cel. Cícero Nunes

Cel. Cícero Nunes

Professor Estudo Bíblico

Cícero Nunes Moreira é casado com Cibele Mattiello da Rocha Moreira. Ordenado ao ministério sacerdotal há vinte e cinco anos, autor e Pastor na Igreja Evangélica Vida com com Cristo e capelão voluntário na Policia Militar de Minas Gerais com atuação, principalmente na Academia de Policia Militar e no Hospital da Policia Militar. Mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas e Coronel do Quadro de Oficiais da Reserva. Autor do Livro Religião e Direitos Humanos na Policia Militar e Segue-me! Conectando-se ao Evangelho de Lucas.

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