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“Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.” (Atos 11:26b).

Bom dia!

Meu sobrinho neto Miguel é uma peça rara. Certa vez, em seu aniversário, ele vestiu uma roupa de “homem alanha” e fechou a cara. No dia seguinte, eu encontrei com ele e o cumprimentei: “Bom dia, ‘homem alanha!’” Ele me respondeu: “Não! Eu sou o Batman.” E me mostrou a camisa do Batman. Um dia depois, eu o vi novamente e, antes que eu dissesse qualquer coisa, ele me disse: “Eu sou minions.” E apontou para a camisa. A identidade do Miguel depende da camisa que ele usa.

Durante as décadas que trabalhei na Polícia Militar, encontrei, frequentemente, com pessoas que agiam de acordo com a camisa que estavam a usar: eram pastores, presbíteros, cantores e músicos em sua comunidade de fé, mas na Polícia eram coronéis, majores, sargentos e soldados. Certa vez, ao escutar um comentário ruim sobre um irmão, e o defendi, dizendo: “Mas ele é pastor!” A pessoa que estava reclamando respondeu, brava: “Só se for pastor do capeta, aqui no quartel ele é um demônio.”

Nós vivemos tempos estranhos nos quais as pessoas assumem, de modo consciente ou não, múltiplas identidades. No período pré-moderno e mesmo no início da modernidade, as identidades eram estáveis, referenciadas nos valores e tradições transmitidos de uma geração à outra.

O sociólogo Stuart Hall (2006) argumenta que as velhas identidades que produziam um sujeito unificado e que estabilizavam o mundo social estão em declínio, fazendo surgir novas identidades que geram um sujeito fragmentado. Para o autor, com essas mudanças “O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mas provisório, variável e problemático.” (HALL, 2006, p.12). Por essa razão, em diferentes momentos, o sujeito assume identidades diferentes. Dentro dele há identidades contraditórias que o empurram em diferentes direções, de modo que sua identidade é constantemente deslocada.

Diferentemente de tudo isso, em Antioquia, quando a cidade entrou em contato com os discípulos de Jesus, seus moradores perceberam, claramente, que os discípulos de Jesus tinham a mesma identidade de seu Mestre e, por essa razão, os denominaram de “cristianos”. Foi em Antioquia que os discípulos de Cristo foram chamados pela primeira vez de cristianos. O sufixo “iano” era utilizado para designar o seguidor de alguém, por isso, os seguidores de Herodes eram os herodianos e os seguidores de Cristo, cristianos.

Santos, discípulos ou irmãos são os principais nomes utilizados no Novo Testamento para se referir aos cristãos, existindo apenas, além desse, outros dois textos que usam o nome cristão. O primeiro quando Agripa se dirige a Paulo durante sua defesa: “Por pouco me persuades a me fazer cristão.” (Atos 26:28), e o segundo, quando Pedro declara que sofrer por Cristo é um privilégio: “Mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.” (1 Pedro 4:16).

A humanidade recebeu sua identidade diretamente do Criador, que nos fez à sua imagem e semelhança. Essa identidade, porém, foi afetada pelo pecado. Jesus Cristo, com sua morte e ressurreição, restaurou em nós, seus discípulos, sua imagem e semelhança. Por sua obra na cruz, nós que o recebemos e cremos em seu nome, podemos, novamente, ter identidade com Ele e sermos reconhecidos e chamados de cristãos. Nossa identidade, portanto, é referenciada na imitação de Cristo e revelada na interação com o próximo.

Quando você interage e se relaciona com seu próximo, ele tem visto em você a identidade de Cristo? Ou ele tem te percebido como a imagem do cão, como “um pastor do capeta?” Sua identidade depende da camisa que você veste? Ou você não se envergonha do Evangelho? O que você tem feito com esse precioso nome, o nome de Cristo?

REFERÊNCIA

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11 Ed. Rio de Janeiro: DP &A Editora, 2006.

Cel. Cícero Nunes

Cel. Cícero Nunes

Professor Estudo Bíblico

Cícero Nunes Moreira é casado com Cibele Mattiello da Rocha Moreira. Ordenado ao ministério sacerdotal há vinte e cinco anos, autor e Pastor na Igreja Evangélica Vida com com Cristo e capelão voluntário na Policia Militar de Minas Gerais com atuação, principalmente na Academia de Policia Militar e no Hospital da Policia Militar. Mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas e Coronel do Quadro de Oficiais da Reserva. Autor do Livro Religião e Direitos Humanos na Policia Militar e Segue-me! Conectando-se ao Evangelho de Lucas.

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