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O QUE É PECADO?

“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.” (1 João 3:4).

Bom dia!

O Breve Catecismo de Westminster define pecado como “Qualquer falta de conformidade com a lei de Deus ou qualquer transgressão dessa Lei.”[1] Para o Dicionário de Strong, pecado é errar o alvo, estar errado, desviar-se do caminho de retidão e honra, fazer ou andar no erro, desviar-se ou violar a lei de Deus. Pode ser praticado em pensamento ou ação, por uma pessoa ou várias.

Não se trata apenas da prática de algo inaceitável socialmente ou grosseiro. O pecado não é definido pela cultura, mas pela Lei de Deus. Segundo Sproul (2017), pecado é a tradução da palavra grega “hamartia” que vem do contexto da prática do arco e flexa, especificamente, quando se erra o centro do alvo. Sendo o centro do alvo o padrão exigido por Deus, não estamos nem perto do padrão requerido por Ele. Para o autor, “nosso fracasso total em satisfazer o padrão de retidão de Deus é a própria definição de pecado.”

Será que Deus foi surpreendido pelo pecado? Evidentemente que não. Apesar de todo o impacto destrutivo do pecado, Deus decidiu permitir que as criaturas morais, deliberada e voluntariamente, escolhessem pecar.

Ao escrever sobre o pecado e a liberdade humana, Agostinho de Hipona afirmou que Deus criou o homem com a liberdade de pecar, que ele chamou de “Posso pecar” (Posse peccare) e com a liberdade de não pecar, que chamou de “Posso não pecar” (Posse non peccare). Dito de outra maneira, em seu estado de inocência, antes de pecar, o homem era plenamente capaz de pecar ou de resistir ao pecado. Isso significa que ambos, homem e mulher, poderiam ter recusado a proposta de Satanás e, ainda, como governantes da criação, podiam expulsá-lo do Éden. Na verdade, como dizem os estudiosos do Direito, o homem e a mulher tinham o poder-dever de expulsá-lo.

Segundo Agostinho, após pecar, a condição da humanidade mudou para “Não posso não pecar” (Non posse non peccare). Dito de outra maneira, a humanidade perdeu a autoridade e a capacidade de resistir ao pecado, se tornou escrava do pecado, como ensinou Jesus, ao debater com os judeus no Evangelho de João: “Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.” (João 8:33,34).

Você pode pensar que Deus é responsável pelo pecado, uma vez que podia evitá-lo ou impedir que acontecesse, porém, se Deus fizesse isso, o homem não seria livre. Além disso, como diz a Escritura, as obras de Deus “são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.” (Deuteronômio 32:4). É impossível para Deus desejar ou fazer o que é errado, pois “Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.” (Tiago 1:13).

Por viver em um mundo em que a mentalidade sucumbiu ao secularismo, de certa forma, o conceito de pecado tem se conformado à cultura e à primazia da liberdade individual. As pessoas tendem a acreditar que podem viver da maneira que desejarem, desde que não façam mal a ninguém. Ao analisar a cultura, Timothy Keller escreveu: “As religiões, bem como a descrença, florescem mais quando a sociedade confere liberdade aos indivíduos para crerem, viverem e adorarem (ou não adorarem) como mandar a consciência de cada um.” Não há, segundo o autor, na era secular, “nenhuma ordem cósmica, nenhuma natureza humana essencial e nenhuma verdade nem absolutos morais diante dos quais precisamos nos ajoelhar.” (KELLER, 2018).

Será que em um contexto de relativismo moral e de submissão da cultura ao secularismo, o conceito de pecado muda? Será que uma nova assembleia em Westminster mudaria o conceito de pecado? Estaria Deus sujeito ao espírito do tempo? A resposta é um sonoro não! Conforme Ele mesmo declara na Escritura: “Porque eu, o Senhor, não mudo.” (Malaquias 3:6). Em Deus, “não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tiago 1:17). Seu caráter e seu propósito não mudam: “Eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade.” (Isaías 46:9,10).

REFERÊNCIAS

GRUDEM, Wayne. Bases da fé cristã: vinte fundamentos que todo cristão precisa entender. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.

KELLER, Timothy. Deus na era secular: como céticos podem encontrar sentido no cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2018.

SPROUL, R. C. Somos todos teólogos: uma introdução à Teologia Sistemática. São José dos Campos: Fiel, 2017.

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[1] PERGUNTA 14: O que é pecado? RESPOSTA: Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus ou qualquer transgressão dessa lei.

Cel. Cícero Nunes

Cel. Cícero Nunes

Professor Estudo Bíblico

Cícero Nunes Moreira é casado com Cibele Mattiello da Rocha Moreira. Ordenado ao ministério sacerdotal há vinte e cinco anos, autor e Pastor na Igreja Evangélica Vida com com Cristo e capelão voluntário na Policia Militar de Minas Gerais com atuação, principalmente na Academia de Policia Militar e no Hospital da Policia Militar. Mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas e Coronel do Quadro de Oficiais da Reserva. Autor do Livro Religião e Direitos Humanos na Policia Militar e Segue-me! Conectando-se ao Evangelho de Lucas.

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